Observação do maior felino das Américas, às margens de rios, atrai centenas de visitantes e movimenta a economia da região
Fonte: G1
Enquanto nos safáris da África o leão tem o título de rei da selva, no
Pantanal mato-grossense o trono é ocupado por outro animal: a
onça-pintada. Admirada e, ao mesmo tempo, temida, ela pode chegar a
pesar 135 kg e vive a poucos quilômetros das grandes cidades.
Na semana do Meio Ambiente, o G1 publica, em parceria com a TV Centro América,
uma série de reportagens sobre o assunto e detalhes da Expedição
Travessia e da Expedição Rio Paraguai - das nascentes à foz. No dia 5 de
junho é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente.
O animal tem ganhado destaque no ecoturismo e se tornado o preferido dos estrangeiros que visitam Mato Grosso.
O turismo de observação de onças-pintadas tem aumentado nos últimos 15
anos no estado. Os visitantes observam o animal de longe durante
passeios de barco em rios do Pantanal.
Especialistas dizem que o animal, considerado o maior felino das
Américas, tem se acostumado e tolerado a presença do ser humano.
A onça-pintada está no topo da cadeia alimentar e precisa de grandes
áreas preservadas para sobreviver. Histórias sobre onças-pintadas
habitam no imaginário de pescadores ribeirinhos e moradores da região do
Pantanal em Mato Grosso.
O animal é conhecido pela grande força muscular e uma potência na mordida, considerada a maior dentre os felinos no mundo.
Dois locais em Mato Grosso são os principais para a prática de observar
esse carismático animal. Um deles fica na Estação Ecológica de Taiamã,
localizada no município de Cáceres, a 220 km de Cuiabá.
A estação tem uma grande variedade de ambientes aquáticos – como lagoas
permanentes, temporárias e lagoas de corixos, fortemente influenciada
pelo Rio Paraguai.
O segundo local é o Parque Estadual 'Encontro das Águas', localizado no
encontro dos rios Cuiabá e Piquiri, na região de Porto Jofre, entre
Poconé e Barão de Melgaço, municípios a 104 e 121 km de Cuiabá. A
reserva tem 108 mil hectares e se pode ver a exuberância do Pantanal bem
de perto.
“O público é estrangeiro e é um turismo caro. As diárias ultrapassam a R$ 500. Os passeios não são baratos por conta da logística e custo operacional. O público é 90% estrangeiro, principalmente norte-americano e europeu”, disse Fernando Tortato, biólogo e pesquisador do Instituto Panthera, que trabalha com onças no Pantanal.
O melhor período para observar a onça é entre julho e final de
setembro, período da seca. Nesses meses as onças ficam mais próximas das
margens dos rios em busca de água e caça, então, é mais fácil de se
deparar com o animal.
A porta de acesso à região pantaneira em Mato Grosso é pela
Transpantaneira (MT-060), que corta o Pantanal mato-grossense ligando
Poconé ao Distrito de Porto Jofre. A via possui cerca de 150 km de
extensão e passa por várias pousadas ao longo da estrada.
O acesso é condicionado à época da cheia. O trânsito pelas estradas fica limitado no período da chuva.
“A exploração do turismo de onças-pintadas aumentou nos últimos 15 anos. Tanto que a população de onças começou a se acostumar com a presença de barcos e pessoas. Ela deixou de fugir ou evitar a presença humana e simplesmente ignora a presença dos barcos no rio. As pessoas começaram a contemplar a presença das onças no rio”, comentou Tortato.
De acordo com o biólogo, até mesmo os filhotes de onças-pintadas já não enxergam mais o ser humano como uma ameaça.
“Isso possibilita a atividade de turismo, que vem crescendo
mundialmente ano após ano. Vem gente do mundo inteiro e equipes de
televisões internacionais. É uma das regiões mais importantes para
desenvolvimento e turismo de onças no mundo”, declarou Tortato.
Para o biólogo, Mato Grosso tem um papel extremamente importante na
preservação da onça-pintada, já que abriga parte da Amazônia, parques e
reservas indígenas, como o Parque Indígena do Xingu.
Não existe ao certo uma estimativa de quantas onças-pintadas vivem em
Mato Grosso. O que se sabe é que a população de onças está fragmentada e
se concentra na região do Pantanal, ao sul do estado, além de uma
porção na região norte já na divisa com o Pará e Amazonas.
“A onça-pintada é uma espécie bandeira. Por ser carismática, ela consegue atrair um público muito grande. Todos os documentários produzidos aqui propiciam uma divulgação muito positiva e ajuda no desenvolvimento do ecoturismo”, finalizou.
Turismo e conservação
Ailton Lara, que é empresário, fotógrafo e guia de turismo na região de
Porto Jofre, diz que animais como a onça-pintada são o grande chamariz
para a conservação das espécies e fomenta o turismo.
“Tenho o melhor trabalho do mundo: convivo com as onças-pintadas e trabalho com uma espécie que está no topo da cadeia na região do Pantanal mato-grossense. O turismo e a conservação andam juntos. O turismo ajuda muito na conservação, desde que seja administrado”, criticou.
Uma resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) define
diretrizes para a observação de felinos no Brasil. É permitida a
aproximação de até 10 metros da onça-pintada.
“No entanto, damos um espaço de 25 metros. Detectamos que chegando a 10 metros, ela não demonstra comportamento típico e fica preocupada. Ela deixa de fazer o que normalmente faz. Ficando um pouco mais distante, é melhor”, lembrou.
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